Síntese de artigo científico publicado online pela Cambridge University Press: 17 de março de 2022, artigo de autoria de Lourenço Nigro*
A piscina sagrada de Ba’al: uma reinterpretação do ‘Kothon’ em Motya
Novas escavações arqueológicas na área ao redor do ‘Kothon’, bacia localizada no centro de um complexo religioso monumental datado de 550–397/396 aC (Motya VI–VII) sendo, possivelmente, uma piscina sagrada que recolhia água doce à finalidade de observação, pelo reflexo sobre sua superfície à noite, do movimento das estrelas importantes para a navegação fenícia.
Na costa oeste da Sicília, onde na Antiguidade se localizava a cidade-ilha fenícia de Motya, novas escavações identificaram uma grande bacia retangular que, inicialmente, foi nomeada por “kothon”, sendo, em grego, a representação de um porto interno artificial. No artigo de Lourenço Nigro, aqui resumido, a ideia de que tenha sido um porto artificial perde espaço às investigações mais recentes, ganhando uma nova interpretação da finalidade de seu uso, pois, embora chamado de “Kothon”, a bacia não se liga ao mar ou outro recurso de navegação, revelando-se como uma piscina sagrada de água doce no centro de um monumental santuário circular que abriga três grandes templos. Essa piscina, onde se encontra uma estátua de Ba’al, serviu para observar e mapear o movimento das estrelas pelo alinhamento das estruturas dos templos encontrados e pelas características posicionadas ao redor do recinto sagrado.
A ilha de Motya, nas Idades do Bronze e do Ferro, oferecia recursos naturais, incluindo sal, peixe e água doce, e um porto bem protegido numa localização estratégica entre o Norte de África, Península Ibérica e Sardenha. Sua ocupação começou por volta do século VIII a.C. com colonos fenícios que se integraram a uma população local (mais tarde conhecidos como ‘Elymians’). Construções monumentais dentro do assentamento, nesta época, incluíam uma muralha e os dois conjuntos religiosos que fortaleceu seu status como uma cidade importante do Mediterrâneo Central a Cartago.
A piscina sagrada como uma grande bacia hidrográfica retangular (52,5 × 37m) revestida de pedra, conhecida na literatura arqueológica como ‘Kothon’, estaria no centro de um santuário monumental com possíveis funções astronômicas.
A investigação dos templos associados a atividades religiosas, se alterou com a nova perspectiva da interpretação relacionada ao ‘Kothon’, descobertas três nascentes subterrâneas de água doce que desembocam na bacia. Em um segundo templo, dedicado à deusa siro-fenícia Astarte, foi encontrado instalações cultuais e hidráulicas no seu interior, estando no lado oeste do complexo, chamado de ‘Santuário das Águas Santas’. A estátua que se encontra no centro da piscina tem sua identificação em grego ‘Belios’ (Ba’al), identificação encontrada em um poço votivo no canto sudeste da piscina. Ao centro dela, hoje, se encontra uma réplica da estátua original para recriar a experiência visual obtida por um habitante da antiga Motya.
Como um vasto observatório astronômico, Motya teve vários artefatos relacionados à prática de observação dos astros encontrados, desde um ponteiro de um instrumento de navegação no Templo de Ba’al à descoberta de uma estátua desgastada de uma cabeça de cachorro e babuíno – uma personificação do deus egípcio Thoth, o deus do conhecimento e da sabedoria associado à astronomia e retratado em zodíacos, sendo que em seus Templos, no antigo Egito, também apresentavam piscinas sagradas.
Sobretudo, as estrelas e as constelações interpretadas, pelos fenícios, como deuses e ancestrais sagrados, trazem Ba’al representado pela constelação de Órion, e o Templo de Ba’al é central às várias estrelas alinhadas orientadas para o ponto no horizonte onde Orion nasce imediatamente após o pôr do sol no solstício de inverno, ponto em que a reconstrução arqueoastronômica do céu da época em 550 a. C. aponta a uma organização espacial arquitetônico da área sagrada com o simbolismo de Ba’al (Egípcio Osíris), o deus que apoiou o renascimento do sol, de tal forma que se identificam os elementos, dentro do complexo, orientados para as estrelas e para as constelações ascendentes e poentes com um significado prático e simbólico relacionado aos equinócios e aos solstícios.
Síntese do artigo em inglês publicado em
https://www.cambridge.org/core/journals/antiquity/article/sacred-pool-of-baal-a-reinterpretation-of-the-kothon-at-motya/329646E6561765FD30A9D6EC5FD5B6CB
*Nigro, L. (2022). The sacred pool of Ba’al: A reinterpretation of the ‘Kothon’ at Motya. Antiquity, 96(386), 354-371. doi:10.15184/aqy.2022.8 – Artigo original em inglês acessado em 16/04/2022 pelo link https://www.cambridge.org/core/journals/antiquity/article/sacred-pool-of-baal-a-reinterpretation-of-the-kothon-at-motya/329646E6561765FD30A9D6EC5FD5B6CB
Afiliação: Istituto Italiano di Studi Orientali, Sapienza Università di Roma, Itália (✉lorenzo.nigro@uniroma1.it)