Cura e a saúde humana

Leitura complementar de "O coração e a pena"

Cura e a saúde humana

Vimos em “Da pedra ao vaso” o tema de algum desenvolvimento humano em razão da técnica da produção de cerâmica para, em “As cheias do Nilo”, se chegar a uma perspectiva mais particular do desenvolvimento técnico de um registro materializado de algo abstrato, uma informação relacionada à comunicação escrita, quando, então, podemos entender o melhor uso de que fizeram provavelmente os fenícios com sua escrita cuneiforme em “tabuinhas” de barro, porque foi onde, afinal, registraram, há aproximadamente 3.500 e 2.300 anos atrás, no Mediterrâneo Oriental, o modo de vida que levavam de modo portátil na prática do controle de suas finanças como navegadores e comerciantes do mar.

Nesta etapa de leitura, momento complementar ao artigo destaque “O coração e a pena“, podemos compreender melhor a manutenção de uma constância à civilização como a da egípcia, fundamentada que era ela na cosmovisão de tecnologias dimensionais ligado a um Estado teocrático através de um aspecto de unidade do panteão divino à pessoa do faraó, de quem se manifestaria o próprio Rá, o disco solar de que dependia todo o conhecimento da administração sacerdotal, ocorrendo essa desde a prática de uma medicina tradicional que, em suas origens, estava fundada em uma mistura de feitiços mágicos e religiosos, até à produção de amuletos ou de encantamentos transcritos em papiros que protegiam seus portadores em jornadas para além das diversas fronteiras estrangeiras.

  • Ver também, por ligação externa, página 10 da ótima monografia de Thiago Henrique Pereira Ribeiro, de título “Cosmologia e morte no Antigo Egito: o Tribunal de Osíris”, acessível clicando AQUI!

Podemos imaginar que, nas batalhas campais às quais nações africanas daquele período se impunham, os imensos exércitos de tribos adversárias ocupassem planícies desertas do Antigo Egito, seguindo-se os conflitos em que mortos e feridos eram inúmeros de cada lado do combate, surgindo, à céu aberto, a necessidade de reparar os ferimentos daqueles que sobreviviam aos combates, além de trazer algum alento a quem, no conflito, acabava morrendo.

Os Papiros Medicinais Egípcios foram alguns dos resultados mais impressionantes que se tem como relato escrito de um amplo costume de documentar os argumentos de um espírito científico de estudo que cresceu entre escribas e sacerdotes, excepcionalmente, por volta dos anos 3000 a. C. Nesses papiros, detalharam-se doenças, descreveram-se diagnósticos, prescreveram remédios à base de ervas e de outros elementos da natureza, relacionando-os a encantos mágicos, além de tratarem de cirurgias como a trepanação, descritos em pergaminhos, considerados mágicos, que teriam existido às centenas de exemplares, mas que muitos desses teriam se perdido ao longo do correr dos séculos. Porém, essa escrita metodológica de fornecer instruções relacionadas aos efeitos curativos de ervas a fins terapêuticos permanece viva há mais cinco mil anos. Já muita antiga, portanto, tem, por efeito, ser uma metodologia aplicada à realidade, tal qual aquela prometida desde a antiguidade egípcia como “remédio contra a choradeira de crianças pequenas”, e que provavelmente tem práticas que remontam ao Paleolítico como uma instrução oral, para então ser transformada numa instrução por um registro gráfico, o de uma receita prescrita em papiro, o chamado “Erbs”, e que continha prescrições de poções e de drogas egípcias para usos terapêuticos num evento precursor registrado à farmacologia moderna em razão de seus usos em aplicações à saúde humana. O remédio prescrito, em questão, tinha por base as sementes de papoulas já conhecidas pelo uso anestésico e sedativo, conhecimento que foi decisivo na história da medicina moderna. A exemplo de Polidamna, a egípcia e esposa do nobre Tom, conhecedora de poções mágicas, que usa da necessidade anestésica e estratégica a quem tenha se ferido em combate, de suas ervas, a fim de aliviar a dor do sofrimento de um combatente, de modo a poupar, não apenas o ferido como a também aqueles que iriam enfrentar seu inimigo, refletindo um menor dano moral a quem prosseguiria à frente de batalha. Na Odisseia de Homero, é descrito sobre a Polidamna que deu à Helena, esposa de Menelau, a nepente, uma droga com “o poder de acabar com toda a angústia e raiva e apagar toda lembrança dolorosa”, de tal modo que Helena derramou no vinho que Telêmaco e Menelau estavam bebendo. 

Em milhares de anos são incontáveis o número de batalhas travadas pelos seres humanos, de um sofrimento atroz pelo sacrifício de muitas vidas. Tudo para se obter os meios de se determinar um poder sobre o próprio estado de fatos vividos, dentro do qual se chega a um papel do soberano desde a mais remota antiguidade.

De importância fundamental à cosmovisão egípcia, o reinado do faraó pertencia à presença do faraó enquanto fosse maior a sua natureza de combatente mítico nas diversas dimensões acessadas através de uma ritualização divina de seus atos em vida, como governante, e a pós a morte, como guia da cultura egípcia além túmulo, tal qual o solar deus Rá cumpre em sua jornada pelo céu.

Amuletos feitos a partir de peças cerâmicas pequenas no formato de besouros, escaravelhos sagrados, foram registros possíveis às centenas de exemplares de peças que atravessaram milênios junto a qualquer portador que as levasse, esperando do escaravelho sagrado alguma proteção. 

Esses amuletos portáteis tinham, como inscrição comum, a grafia do nome do faraó, e ambos somados emprestavam ao portador alguns poderes mágicos atribuídos ao escaravelho como sagrado por ser a insígnia faraônica que sinalizava a origem da crença do portador pela guarda de um poder além da phisys relacionado ao Estado egípcio, alcançado através das atividades de seus templos e dos sinais desses poderes inscritos que se verificaram, na prática, em campos de batalhas em que se apresentaram na forma de estandartes ou de bandeiras de nações, selos de autoridades, ou insígnias faraônicas que poderiam vir de muito além da existência de seus tempos históricos, tal qual forma-pensamento de uma inscrição que poderia ser a de qualquer um dos nomes escritos a finalidades mágicas, de ligações dimensionais capazes de estabelecerem, pelos nomes dos membros reais inscritos, as únicas provas documentais de suas existências em toda história. 

Por Jeff Dahl - self-made, taken May 2005, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2866911

Amuletos feitos a partir de peças cerâmicas pequenas no formato de besouros escaravelhos sagrados foram registros possíveis às centenas de exemplares de peças que atravessaram milênios junto a qualquer portador que as levasse, esperando do escaravelho sagrado alguma proteção.

Ler também “Escaravelho”.

Esses amuletos portáteis tinham, como inscrição comum, a grafia do nome do faraó, e ambos somados no mesmo objeto por rituais específicos emprestavam ao portador alguns poderes mágicos atribuídos ao escaravelho e à insígnia faraônica, sinalizando-se a origem da crença do portador sob a guarda de um poder além da phisys, poder que só o Estado egípcio poderia legitimar por meio de seus templos.

Esses sinais de poderes se verificaram usuais durante os conflitos, utilizando-se de estandartes e bandeiras para a identificação dos exércitos em lados opostos nos campos de batalhas, onde os reinados, para muito além da existência de seus tempos históricos, existiram sob as inscrições de seus nomes a finalidades mágicas, de ligações dimensionais capazes de estabelecer, pelos nomes dos reis inscritos, as únicas provas documentais de suas existências em toda história.

Os amuletos na forma de escaravelhos sagrados tinham, no Antigo Egito, um uso relacionado às atividades deus Rá, ou seja, ao deus Sol que, na mitologia egípcia, era representado por um disco solar sendo girado pela abóbada celeste pelo deus Kefri, da mesma maneira com que um besouro, comum na antiguidade egípcia, chamado escaravelho-de-esterco, juntava excrementos de animais até fazer uma bola, empurrando-a e tornando-a cada vez maior para, não apenas dela se alimentar, mas também nela depositar as futuras gerações de besouros, ou seja, colocar os ovos dos quais eclodiam as larvas de novos escaravelhos que se alimentariam da bola até a fase adulta, reproduzindo-se um ciclo.

Rá, girado pela abóbada celeste pelo deus Kefri, vem a ser o Sol nascente até seu poente, quando, no crepúsculo, deus Rá morria e ia para o outro mundo, sendo o escaravelho a figura mítica que renovava o Sol todo amanhecer.

Tal era o uso de uma dimensão sagrada a uma imortalidade para a realidade egípcia que se repetia, sol a sol, por uma centena de práticas ritualizadas que abarcavam a vida além da vida cotidiana, de alimentação e de abrigo, para, enfim entre elas, exercitar a prática da mumificação dos mortos.

Os templos, portanto, eram de dimensões variadas com um cotidiano que abarcavam as tradições onde ritos eram feitos às finalidades de seus institutos de poder. Escribas, seguidores de Thot, foram, por excelência, documentaristas das instituições vigentes da antiguidade egípcia a ponto de se tornarem referências em cargos públicos e funções administrativas do Estado. Nessas diversas funções, o que prevalecia era um conhecimento técnico necessário à administração das posses do faraó frente à perspectiva da eternidade em que seria, o monarca, um ressurreto, e por isso, se deveria supor a razão da existência das pirâmides. Rá, assim como seu símbolo de deus-faraó, encarnaria o significado da vida terrenal com um sentido de ascensão das forças masculinas, tal qual consciência divina e fálica em que tudo se estabelece sob seu domínio de entendimento, ou ainda, sob um poder de existir em intra realidades dimensionais como em um transe, quando frequentemente se atingiria um estado de mudança de consciência com transformações na mentalidade da pessoa tal qual outra personalidade lhe houvesse tomado o controle, e da qual eram testemunhas escribas e sacerdotes.

Para ir além:
A origem da Medicina, via revista da USP, artigo com download direto pelo acesso do link:
 
http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/download/121683/118577/.
 
Bibliografia consultada
 
THORWALD, Jürgen. O Segredo dos Médicos Antigos: Egito, Babilônia, Índia, China, México e Peru. Trad. de Alfred J. Keller e Horst Müller Carioba. SP: Melhoramentos, 1990.
 
Dica de páginas web:
 
Artigo “As práticas médicas do Egito Antigo que são usadas até hoje” acessível pelo link: https://www.bbc.com/portuguese/geral-40634202
 
 
 
https://www.academia.edu/7635576/Cosmologia_e_Morte_no_Egito_Antigo_o_Tribunal_de_Os%C3%ADris
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