Literatura-Enciclopédica, Realismo Mágico

O Dicionário Kazar – Edição Feminina

Comprei um exemplar de “O Dicionário Kazar – Edição Feminina” de Milorad Pavitch em um sebo que fica no centro da cidade, ao final de um calçadão antigo. Trata-se de uma casa com uma fachada baixa, de que não se vê telhado, apenas a parede branca caiada típica da arquitetura da ilha como a porta que se abre de par em par, tendo, ao lado, uma única vitrine à rua com um mostruário de livros. Numa prateleira desse mostruário, encontrei um exemplar do “O Dicionário Kazar – Edição Feminina” envolto em uma capa feita de plástico transparente mais rígido, observando, com isso, o cuidado que algum primeiro leitor se dedicou a ter para conservá-lo o mais inteiro possível, passados os mais de 30 anos de sua publicação. Fiquei com o livro nas mãos por alguns instantes, intrigado com a capa e a ideia de um “Romance-Enciclopedia” de que não me lembrava ter visto como gênero nos tempos da faculdade de Letras. Depois, foram os símbolos religiosos com a pirâmide em perspectiva sobre o título que me detiveram de recolocar o livro em seu lugar na estante.
 
A edição é de 1989, de Inácio Araújo com, entre outros editores, Maria José Silveira, Felipe Lindoso e Márcio Souza da Editora Marco Zero. Tem a capa assinada por Jorge Cassol e a tradução de Herbert Daniel e Aleksandar Jovanovic.

 

Contexto do interesse

Nos primeiros anos de nosso século XXI, meu estudo sobre a representação de personagens não-nacionais presentes em alguns títulos da literatura brasileira levaram-me a entender as fronteiras da identidade nacional e não-nacional. Principalmente no Modernismo Brasileiro, com Oswald de Andrade, autor do romance “Marco Zero”, temos exemplos diversos de personagens de nacionalidade brasileira como “nativos” representados aquém de estrangeiros e numa condição além dos imigrantes.

“O Dicionário Kazar – Edição Feminina” comporta três religiões distintas que compreendem narrativas de eventos e de crenças próprias como versões contadas sobre os mesmos pontos que convergem a respeito da existência do povo lendário de Kazar. Tem muito de uma narrativa modernista por sua maneira de transformar o leitor em uma parte da engrenagem da história que cria, por sua vez, uma interpretação do que é possível à leitura, como no caso de Marco Zero* de Oswald de Andrade, um escritor brasileiro de meados do século XX de um estilo jornalístico que integra, pela técnica do muralismo moderno, uma perspectiva das representações nacionais como marcas de todo uma época no cenário brasileiro dos anos de 1930 e 1940, como no caso da diversidade de notações presentes em “O dicionário Kazar” quanto a um povo mítico e suas origens.

#em-busca-de-uma-identidade, #povos, #literatura, #estudos, #modernismo-brasileiro, #textos-admiráveis  

Em suas obras, Milorad Pávitch é pródigo de jogos de leitura, o que nos permite colocá-lo ao lado de nomes da estatura de um Jorge Luís Borges ou de um Julio Cortázar.

Para saber mais

O livro em movimento : hibridismo textual e escrita combinatória em O dicionário Kazar, romance-enciclopédia em 100.000 palavras.    Dissertação de Marcia Rodrigues Junqueira em pdf:

https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/ECAP-7L3MFE

REPRESENTAÇÕES TRANSITIVAS: Observações relativas às possibilidades representacionais dos sujeitos da migração
em Marco Zero, de Oswald de Andrade.
Artigo de Egídio Mariano do Nascimento disponível AQUI

O nacional e o estrangeiro em Marco Zero de Oswald de Andrade
Artigo de Wagner Fredmar Guimarães Júnior disponível em pdf:

https://periodicos.ufpe.br/revistas/INV/article/view/240796

Links sobre “O Didionário Kazar”

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hazarski_Recnik

https://pt.wikipedia.org/wiki/Milorad_Pavi%C4%87

https://fantastika451.wordpress.com/

https://www.posfacio.com.br/2011/07/07/dicionario-kazar-milorad-pavic/

https://revistaogrito.com/entrevista-com-diogo-bercito-autor-de-vou-sumir-quando-a-vela-se-apagar/

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/7/12/ilustrada/12.html

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0212200920.htm

Egídio Mariano

Sou pesquisador independente com formação bacharel em Letras, atuando como escritor, editor e produtor de conteúdos web, especializado em Planejamento e Gestão Estratégica, com Docência ao Ensino Superior e Educação à distância (EAD). Sou autor de "Estados de civilidade: uma história sobre tecnologias" (artigos); "Cartilha de Jack & Janis - Uma sátira da vida conjugal moderna" (novela) entre outras publicações.

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