Meu objetivo não é um fim em si mesmo, mas um meio. (Gi Nascimento)
Recentemente estivemos em um sítio arqueológico acessível a público na cidade de Urubici, Santa Catarina. Trata-se de um sítio arqueológico que tem inscrições rupestres com cerca de 4000 anos, onde se destaca “A Máscara do Guardião”, muito provavelmente uma espécie de registro com natureza de uso tal qual as “carrancas” feitas em madeira e usadas nas proas dos navios, os que navegavam pelo Rio São Francisco no séc. XIX, e nos quais as carrancas tinham atribuições místicas no compreender dos ribeirinhos, sendo uma delas as de afugentar os maus espíritos. E, embora a distância dentro de uma linha do tempo seja realmente considerável entre um ponto e outro dessas expressões que nos são úteis como ser humano, ambas desfrutam de uma mesma ciência que se poderia chamar primitiva a respeito dos fenômenos e arquétipos primevos, e que ainda nos contagiam.
Esse foi uma das motivações a nossa visita ao local.
Arte rupestre em inscrições em pedra – artesfatos.com
Toda realidade dimensionalmente contida na expressão da cultura e na capacidade de interpretação humana, me parece ser uma realidade subjetiva capaz de ser também subsídio para sua própria realização.
Estamos em busca dessa arte rupestre que data de cerca de 4000 mil anos atrás. O sítio arqueológico visitado no última dia 07 deste mês de abril, nos leva a investigar um homem que se encontra dentro de um período histórico dentro do qual, no mundo, ocorria o nascimento da escrita, isto é: o que é, aqui, uma hipótese provável de surgir, concomitantemente à escrita, também aquela inscrição rupestre diante de nós, pensando-se que a grafia tem sua origem suposta em ideogramas pictóricos posteriormente simplificados em traços que simbolizam, geralmente, elementos naturais, como animais selvagens ilustrativos da realidade subjetiva do homem que também se representa, a partir daí, figurado entre eles.
No caso de Urubici, “A Máscara do Guardião” pode simbolizar algo mais ritualístico, já que se deduz uma iconografia relacionada ao órgão sexual feminino, talvez representando uma fertilidade necessária ao povo Jê* daquela região do vale que é chamada, hoje, Cachoeira do Avencal. Ou, ainda, talvez seja uma forma de representar essa mesma cascata, visível a partir do local do sítio arqueológico, como se existisse nesse homem de milhares de anos atrás, essa necessidade artística e, portanto, subjetiva de representar a beleza daquele mesmo local como um registro “imagético” (“fotográfico”) desse espaço possivelmente abundante de vida à sua própria época.
É um exercício de inventividade histórica que inicialmente se recorre para levantar alguma hipótese mais apreciável de um ponto de vista técnico. A realidade daqueles indivíduos que tenham feito seus registros, esculpindo veios na pedra de forma a expressar algo diante de uma mensagem que, em nós, observadores, procuramos compreender. Os que tenham feito aqueles registros, o fizeram com provável percepção de uma posteridade. Uma posteridade quanto aos que viriam depois deles/as como eles/elas (não se sabe) que em seus próprios tempos históricos observaram a queda d’água para dentro do vale verde, lugar de uma mata alta e forrada de sons.
Ilustrativo, nesse sentido, é encontrar dentro da área do sítio um cômodo espaço entre pedras, quase uma habitação pronta a esses habitantes do passado.
Na imagem abaixo, essa ideia de habitação é reforçada devido às inscrições, talvez indicativa da passagem de um tempo, uma estação, ou uma representação de natureza numérica, contagem de colheita, podendo ser de fato simplesmente uma abstração humana, mas certamente haveria de ser descoberto e interpretado em seu próprio momento histórico.
Hoje, a região de Urubici onde fica o sítio arqueológico, integra o circuito de turismo de inverno catarinense, e traz a oportunidade de ser, por meio desse mesmo local, um contato quanto a um conhecimento que se mantem registrado através da arte rupestre inscrita em pedra cerca 4000 anos atrás.
Pesquisa e produção:
Para conhecer mais sobre o assunto, recomendo a leitura das fontes de nossa pesquisa básica abaixo:
Fontes de Pesquisa
*QUINTO, Antônio Carlos. Arqueólogos reconstituem trajetórias e costumes dos povos Jê no Sul do Brasil. USP, notícia veiculada via web, disponível em http://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-exatas-e-da-terra/arqueologos-reconstituem-trajetorias-e-costumes-dos-povos-je-no-sul-do-brasil/, clique AQUI e acesse a matéria.
Repositório UFSC: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/128886, Ocupação pré-colonial no planalto catarinense: os sítios arqueológicos do município de Urubici (SC) sob a perspectiva da geoarqueologia. Tese de Luciana Cristina de Almeida, disponível para download.
Secretaria de Turismo do Estado de Santa Catarina.
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LINK EXTERNO, notícia CLIQUE AQUI
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