Uma antiga parábola traz a ideia da Verdade e da Mentira como duas mulheres que se encontram às margens de um rio, quando a Mentira tenta enganar a Verdade:
A mentira então convidou a verdade para um banho no rio. Despiu-se de suas vestes, pulou na água e disse:
– Venha, Verdade, vale desfrutar do prazer destas águas.
Assim que a verdade, sem suspeitar, despiu-se de suas vestes e mergulhou, a mentira sorrateiramente saiu da água, vestiu-se com as roupas da verdade e se foi.
A verdade, ao perceber o que se passara, recusou-se a colocar-se nas vestes da mentira. E por não ter do que se envergonhar, saiu nua a caminhar pelas ruas e vilas.
O trecho da parábola acima nos convida a pensar sobre as vestes dos nossos diálogos, de como estamos nos vestindo e socializando o imagético que somos no cotidiano, nas ideias com as quais nos elaboramos.
Como trazer esse diálogo imanente, que é particular a cada ser, e transmiti-lo compreendido, entendível, útil ao cotidiano das ações?
A ternura, não só falada, mas a praticada na vida da criança é muito importante para a mesma, por ser um exemplo em ação, por ser uma luz que permanece acessa; é algo necessário até que a criança chegue a sua maturidade em que possa escolher por si, com seu discernimento, suas ações em seu próprio roteiro de vida, utilizando a ternura como uma referência, um elemento norteador em suas escolhas. Essa é uma forma de revolucionar, através do exercício do amor, praticar o Amor que cura. Eu acredito nesse movimento.
Mas a criança, até que se liberte da condição de sua imaturidade, fica sujeita a quem é responsável por ela, e dessa forma a liberdade da criança se encontra condicionada a um roteiro de quem a assiste em sua história. Por isso, é tão importante a ternura quando se trata de uma forma de respeito à manifestação livre, de tal maneira que se compreenda que a manifestação da criança é, na verdade, a compreensão de quem é o adulto para ele mesmo. Em outros dizeres: Quando você vê o outro, criança, adolescente ou adulto, você o vê através de uma lente que é a sua, e o “outro” existe e o vê através da lente dele. E na socialização, no desenvolver do diálogo, todo o pré-percebido, se des-constrói.
Ana Balesca