Muitos dos historiadores contemporâneos, quando tratam da ideia de evolução das tecnologias humanas, abordam didaticamente uma cadeia de eventos determinados dentro de uma linha de tempo que se transcorre entre um fato e outro, assim de modo aproximado, ressaltando-se, geralmente, que não seria essa uma única linha narrativa relacionada às tecnologias humanas, mas que haveriam outras tantas possíveis que não deixaram rastros pelos quais fossem, os seus sinais, interpretáveis às gerações posteriores.
Mas é quase sempre destacada essa interpretação evolucionista das interações humanas em torno de suas tecnologias. Data-se, entre outras, o advento da escrita e daí à formalização do Estado organizado na Antiguidade e até o Estado Moderno dividido em nações, em um salto repentino que ilustra a capacidade de perpetuar conhecimentos através de sinais gráficos, e legitimá-los como instituições na ordem pública em que atuam os governos, sejam teocráticos, plutocráticos, ou tirânicos, ou quaisquer deles, pois representam, de um modo geral, as hierarquias de qual fazem parte.
Além disso, toma-se a civilização, como a conhecemos, tendo por berço a Mesopotâmia, fundada, talvez, em meio a tradições da vida civil da antiguidade que já seriam herdeiras de conhecimentos anteriores, muito provavelmente pré-históricos.
E esse é o ponto fundamental da reflexão que trago aqui ao interpretar a leitura de "Sinais dos Deuses", de Erich Von Däniken.
Esse livro, em sua primeira edição de 2014, compreende ser o segundo de uma série de informações relacionadas a estudos do autor sobre as origens tecnológicas aplicadas ao que, hoje, são sítios arqueológicos onde se encontram megálitos, alguns com mais de 3 mil anos. Esses, por sinal, foram, no entender dele, exemplos de construções inexplicáveis para o período da Idade da Pedra, porque foram feitos a partir de conhecimentos que antecederam aos de Pitágoras, no que compreende cálculos de ângulo e linhas das formas geométricas dos blocos, ou mesmo antecederam à cabala judaica, pela sugestiva ideia de origem comum que ele atribui à figura do patriarcado judaico chamado Enoque, também chamado Hermes, ou, por extensão, Thoth, deus egípcio.
A imagem em destaque no início da postagem é dos Templos de Tarxien, situados em Tarxien, Ilha de Malta no Mediterrâneo, e são parte de um complexo megalítico construído aproximadamente em 2800 a. C.
Não muito distante de lá, os Cartaginenses construíram, por volta de 1700 a. C., onde hoje é Marrocos, um porto, a que chamavam de "Lixus", a "eterna". De acordo com Däniken, os Fenícios, por volta de 1200 a. C., lá se estabeleceram, porque, provavelmente, se depararam com restos de uma antiga civilização megalítica no mesmo lugar, afinal sendo esse um espaço propício à atividade de marinha mercante.
E assim trata dos construtores originais de Lixus, no seu entender os verdadeiros responsáveis pelos gigantes blocos de pedras usados a quebra-mar, parcialmente cortados em um padrão evolutivo tecnológico distinto a grande parte do que poderia corresponder a uma tecnologia do período da pedra lascada, período que se caracteriza, ainda, de maneira muito rudimentar, tanto em suas ferramentas quanto no trabalho primitivo que compreendia o polimento das pedras. Cita Däniken, nesse sentido, o arqueólogo Thor Heyerdahl, que descreve, por sua vez, detalhes das pedras cortadas em variadas dimensões, mas "sempre com os lados e cantos verticais e horizontais que se encaixavam perfeitamente uma a outra como as pedras de um quebra-cabeça gigante..." (apud DANIKEN; p. 12). Não distante desse citado arqueólogo que cogita, como Däniken, a existência de um passado mais remoto a esse mesmo porto, está também um outro citado arqueólogo chamado Gert von Hassler, de quem se transcreve:
Assim, as paredes originais de um porto atlântico, que ocupam um lugar importante em nossa coleção de curiosidades, foram preservadas. Seus blocos de pedras não podem nem ser discutidos fora da existência, nem deslocados no tempo. Lixus é definitiva: não é uma vila de pesca marroquina, nem uma praça templo romano, nem uma feitoria fenícia. É um porto pré-histórico.
Na ilha de Malta encontram-se os "sulcos dos carrinhos" que são canaletas provocadas por desgastes no chão como "linhas férreas" que cruzam vales e morros, em um enigma que deixa marcas na região e contra a rocha calcária. Däniken, em seu "Sinais dos Deuses", entende que Malta não pode ser tomada isolada como ilha que é nessa região do Mediterrâneo, pois os sulcos lá encontrados também podem ser encontrados, de acordo com ele, na Sicília, Itália, Grécia, Turquia, etc; admitindo-se que "O prazo em que as coisas incríveis aconteceram não é de 2000 a 3000 anos antes de Cristo, mas de 10000 anos atrás ou mais", o que muito poderia abranger também os Templos de Tarxien por hipótese subentendida.
Nesse paralelo entre um porto e outro, Däniken aborda a questão da direção em que os sulcos correm na Ilha de Malta: ao mar e à linha abaixo da terra nesse mesmo sentido, ao que dessa forma ele nomeia de hipogeu [hipo-gaia], fazendo uso ilustrativo de imagens fotográficas dos subterrâneas escavados em rochas por toda a ilha, descobertos acidentalmente em 1902.
Junta-se a esse estranho mundo subterrâneo, a possível finalidade de um dos seus espaços, esse com um diâmetro de 70 metros, e sobre o qual se destacou o trabalho do cartógrafo Paull Micallef, de quem a pesquisa em Mnajdra demonstrou ser provável o uso do espaço como templo, devido a estar orientado a eventos astronômicos onde se alinha, no dia do Solstício de verão, um raio de luz à entrada de um monólito, precisamente ao nascer do sol.
Cerca de 3700 a. C., o feixe cruzou o monólito e tocou a borda de uma pedra deitada; 10000 a. C., era uma vez diferente. Naquela época, o feixe de luz atingia precisamente o centro do altar de pedra ainda mais para trás.
É quando a questão se torna pertinente: como é possível se interpretar uma data de 12000 anos a partir deste jogo natural de luz?
Erich von Däniken em "Sinais dos Deuses" retrata a ideia de que há origem tecnológica alienígena envolvida tanto nas construções dos monólitos ao redor do mundo, como também na tecnologia usada na construção das pirâmides egípcias. Afirma além, compreende que a própria construção da pirâmide foi uma maneira de preservar um conhecimento que ficaria inacessível por milhares de anos. Em uma estela encontrada em 1850 nas ruínas do templo de Ísis, descreve-se que "Quéops havia estabelecido a casa de Ísis" o que leva Däniken a supor de uma existência anterior da Pirâmide de Quéops, já que Ísis era descrita como "Senhora da Pirâmide", e sua morada viria posterior à Pirâmide. Daí continua o autor, citando o historiador árabe Al-Maqrizi, que publicou "Hitat", onde defende o argumento quase místico da origem da construção das Pirâmides, pinçando de seu texto traduzido:
Nele, aprendemos que a Grande Pirâmide foi construída há tanto tempo quanto o dilúvio por um rei chamado Saurid. Quem era esse Saurid? O Hitat diz que "ele era Hermes, a quem os árabes chamam de Idris". O próprio Deus o havia instruído em astronomia e revelou-lhe que uma catástrofe viria...
É o que mais se destaca quando em "Hitat" se lê, em um detalhe do capítulo 33 transcrito por Däniken, que o "Primeiro Hermes", chamado "Trismegisto" por ser três vezes grande com suas capacidades de profeta, rei e de sábio, "é o único quem os hebreus chamam de Enoque, filho de Jarede, filho de Malalel, filho de Kenan, filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão", gerações anteriores ao dilúvio bíblico a que Hermes daria voz ao construir as Pirâmides a fim de proteger e manter seguro o conhecimento entesourado em documentos que poderiam vir a desaparecer. Cita-se de Däniken:
O explorador e escritor árabe Ibn Battuta (século 14), também afirmou que Enoque tinha construído as pirâmides antes do Dilúvio "para manter a salvo os livros da ciência e do conhecimento e outros objetos valiosos".
Como evento pré-diluviano, Hitat documenta uma origem a um conhecimento quanto à construção das Pirâmides egípcias. Por outro lado, um dos Manuscritos do Mar Morto, o Pergaminho de Lameque, documenta a descendência de Enoque a partir de seu filho Matusalém, a quem deixou "mais de 300 livros", dos quais nada se sabe, restando um número reduzido de fragmentos. Em Hitat a instrução é feita por Deus a Saurid (Hermes ou Enoque) advindo-lhe um conhecimento sobre um momento futuro percebido e para o qual é preparado a fim de preservar tal conhecimento para o futuro. Ambos movimentos convergem a uma perspectiva de continuidade de algo que poderia se perder no esquecimento. Como o manter através dos séculos?
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Notas sobre o tema:
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Bibliografia citada:
DÄNIKEN, Erich von. Sinais dos deuses: uma viagem visual da influência alienígena no Egito, Espanha, França, Turquia e Itália. Trad. e Revisão de Novinsky Guinsburg. Primeira edição, Bauru, SP: Idea Editora, 2014.