Arqueologia
Göbekli Tepe, monumentos para um modo de vida em extinção
Em ampla matéria publicada archaeology.org, ANDREW CURRY traz a conhecimento novos dados de uma região que pode ter concentrado os primeiros assentamos humanos com uma natureza mais permanente do que nômade, embora a população nômade fosse possivelmente maior que a permanente em Göbekli Tepe.
É extraordinário perceber o recuo de milênios quanto ao início da formação da civilização, que pode ser considerado anterior ao período da Antiguidade, que é, por excelência, um período histórico das civilizações nossas conhecidas e base às sociedades modernas.
Acima a localização, na atual Turquia, de Göbekli Tepe, que é um sítio arqueológico em que foram encontradas áreas construídas por povoações de natureza mais permanente que se tem vestígio há pelo menos nove mil anos atrás, adiantando-se em alguns milhares de anos aos primeiros sinais de povoamento sedentário na região da Mesopotâmia, berço das civilizações no quarto milênio antes de Cristo.
O sítio arqueológico na descrição de Dosseman:
A construção “C” apresenta pelo menos duas, ou mais provavelmente três paredes concêntricas. Tem uma planta redonda ovalada e um diâmetro de cerca de 30 metros. Como tal, é o maior dos edifícios monumentais megalíticos escavados até agora descobertos em Göbekli Tepe. Seus dois pilares centrais em forma de T parecem ter sido destruídos na antiguidade, quando uma grande cova de ladrão foi escavada no prédio e os dois monólitos intencionalmente destruídos. Ainda não está claro quando essa destruição ocorreu, mas provavelmente no período pré-histórico (Neolítico?).
Prossegue na descrição do sítio Dosseman:
Notável para este edifício e também para o Edifício D, é que os dois pilares centrais foram encaixados em dois pedestais cuidadosamente esculpidos. Esses pedestais foram trabalhados a partir da rocha calcária natural. O piso deste edifício é a superfície de rocha natural igualmente alisada do planalto de calcário. O pilar central ocidental foi parcialmente restaurado em 2009. No seu lado esquerdo largo está a representação de uma grande raposa (em baixo relevo). A parte inferior do fuste oriental foi encontrada in-situ, ou seja, ainda inserida em sua base entalhada. Este pilar ainda está preservado a uma altura de 2 metros, embora sua altura original fosse provavelmente de cerca de 5 metros. Parece que esse pilar também foi queimado no momento da destruição deliberada, conforme atestado por sua aparência escamosa. Todos os outros pilares em forma de T pertencentes ao Edifício C são encontrados em intervalos mais ou menos regulares dentro das duas paredes concêntricas internas do edifício. Onze pilares foram encontrados até agora no anel interno, enquanto o segundo anel apresenta sete pilares. Esse número muito provavelmente aumentaria se as escavações continuassem.
A dinâmica dos mundos
Penso ser bem possível a ocorrer que povos nômades se deslocassem sobre grandes planícies e ocasionalmente se reunissem para desafios, para trocas ou a outras atividades com as quais se mantinham em contato, ainda que em direções opostas.
Abordo um pouco disso no capítulo “Civilizações Esquecidas” de Estados de civilidade: uma história sobre tecnologias, livro que recomendo leitura, já que é síntese chave de uma abordagem particular da história e da pré-história humana, de que vale ficar a par.
Göbekli Tepe tem cerca de 11 mil anos, sendo considerado o templo mais antigo do mundo, superando, com folga, as pirâmides egípcias. E, antes de existirem evidências de que pessoas residiram permanentemente no lugar, acreditava-se que o Göbekli Tepe tenha sido apenas um local de culto a uma vasta região habitada por povos nômades que lá se reuniam de maneira sem precedentes. Mas que para a construção de Göbekli Tepe, acabaram por mudar a forma em que viviam, com “evidências de caça acumulativa combinada com agricultura básica, como ovelhas selvagens e grãos com potencial de cultivo”*.
Citado em matérias de archeology.org e archdaily.com.br, o arqueólogo Klaus Schmidt do Instituto Arqueológico Alemão (DAI) acreditava que a região tivesse sido uma primeira catedral da humanidade, para onde afluíam povos nômades caçadores-coletores em determinadas épocas. O que, para Schmidt, demonstrava que “a organização social complexa e a realização de rituais realmente antecederam o assentamento permanente e a agricultura, e que as pessoas que se uniram e construíram as estruturas monumentais eram caçadores-coletores nômades”**.
Porém, novas descobertas em Göbekli Tepe, apontadas por ANDREW CURRY em sua postagem “Última resistência dos caçadores-coletores?” no archeology.org, traz um melhor conhecimento sobre novos dados de uma região que pode ter concentrado os primeiros assentamos humanos com uma natureza mais permanente do que nômade, pois os arqueólogos descobriram evidências de que o local era, afinal, um assentamento, e que muitas de suas grandes estruturas rituais foram usadas contemporaneamente, e não construídas uma após a outra ao longo dos séculos.
Esculturas de animais selvagens, especialmente predadores, cobrem muitos dos pilares T de Göbekli Tepe:
A estrutura no local foi encontrada pela primeira vez na década de 1960, por uma equipe de antropólogos da Universidade de Chicago e da Universidade de Istambul. Mas foi somente em 1994 que seu valor histórico foi compreendido pelo arqueólogo alemão Klaus Schmidt.
Você pode acessar toda matéria de Andrew Curry, editor colaborador da ARCHEOLOGY, clicando AQUI, em inglês.
Particularmente, penso se tratar de um cemitério, tal qual uso relacionado às pirâmides egípcias, já que me pareceu pela leitura do artigo que os habitantes da região construíam seus “totens” e os cobriam em seguida. Leu o artigo de Andrew Curry? Comente aqui em nosso espaço! Escreva sobre a sua impressão ao fim desta postagem!
Para ir além:
* https://www.archdaily.com.br/br/900962/arquitetura-mais-antiga-do-mundo-conta-uma-nova-historia-do-surgimento-da-civilizacao
** https://www.archaeology.org/issues/422-2105/features/9591-turkey-gobekli-tepe-hunter-gatherers
https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-05-31/um-cemiterio-de-13400-anos-atras-confirma-violencia-generalizada-no-paleolitico.html