Sinto-me fascinado pela cultura humana em suas práticas de ofícios, pelos serviços criados a partir da própria necessidade humana de se manter em atividade co-criativa sobre a Terra, e penso o quanto de esforço deve ter sido necessário aos artífices a chegar a uma vida mais complexa e de maior fartura frente a uma existência simples que, então, sem tantos frutos, depende de uma natureza própria para existir. E, depois, a mítica queda do paraíso à dimensão da necessidade do mundo.
Qual mundo?
Daquele em que a consciência humana entende uma realidade sujeita às forças dos cosmos da criação, co-criando em êxtase de si ao que lhe teria levado a ter uma maior consciência quando a um poder exercido pela imagem do que lhe poderia ocorrer como evento possível de realização.
Haveria, esse ser humano, alguma vez se visto por uma primeira vez como um hominídio primata? Despertado para a sua própria face em uma nova dimensão de sua compreensão enquanto espécie?
Também posso pensar na ideia que me ocorre há algum tempo. Seria possível que esse ser tenha sido uma fêmea da espécie, por qual vida de forma consciente como uma consciência de si tenha advindo toda uma nova geração de hominídios pensantes?
Estamos falando de um novo mundo: obviamente não físico nas dinâmicas externas aos sujeitos dessa ideia de evolução, mas interno a eles, dentro dos quais estão presentes os reflexos da base para a comunicação humana, que chega para além do instinto, para a concatenação de comparações entre elementos identificáveis nos espaço de seu habitat.
Particularmente, me sinto fascinado pela experiência que posso supor ter existido na história humana, e sob esse ponto de vista, principalmente, o que destaco dessa realidade quase que paralela do desenvolvimento da concepção de ser humano sobre a Terra. Se há um herói que se sobressaia dos muitos heróis que tive em minha infância em razão das imagens de desenhos animados das primeiras décadas do consumo das programações das emissoras de TV, esse herói, foi um aventureiro que se envolve com inúmeros mundos possíveis por meio de algumas de suas vivências em insondáveis mistérios. Quando o personagem do cinema despontou como um herói de chapéu, recuperando relíquias por uma pesquisa que revela a importância de um passado com seus segredos, vivia-se um estilo de vida em torna de um conhecimento que se aplicava na ideia que me interessava.
Além disso, na época, eu tinha alguns recursos como as séries de publicações enciclopédicos que marcaram as décadas de 1970 e 1980, como a Delta Universal que, a exemplo, fornecia combustível a uma já ideia de leitura de um mundo pelo folhear de páginas, numa “viagem” intelectual a culturas distantes e a conhecimentos descritos por meio de imagens, e de um conteúdo que me alcançava pela leitura.
Viajamos pelo mundo sem sair do lugar. Pelos muitos mundos possíveis que surgem, cheios de ideias e de conceitos que constituem, para mim, os alguns dos mais interessantes temas a uma pesquisa, o prazer de ler como um encanto feito consigo.
Imagine-se, agora, o que foi essa consciência de interpretação para os que foram pastores nas pré-história, e que se dividiram em tribos e mais tribos nômades que se espalharam em idas e vindas pelo Oriente Médio e Egito. Os pastores foram representantes de uma tradição oral que já se constituía há milhares de anos entre povos nômades que se adequavam às estações e às migrações, quando, então, se esgotavam os recursos em uma região, passando a outra, ampliando o horizonte a ser descoberto e, assim, a ser alcançado em uma rotina que acompanhava, inicialmente, o movimento dos rebanhos, e que, depois, foram rebanhos domesticados pelas ideias que tais pastores primitivos passaram a ter quanto ao que os esperavam depois “do próximo monte”, ou para a próxima existência, talvez, a de uma “terra prometida”.
Em outra época, provavelmente, dentre esses pastores nômades, a experiência poderia ser transmitida pelas palavras com algum poder de determinar a condição de estar a descoberto à própria sobrevivência. Sobressaíam-se as hierarquias: essas cumpriam algumas funções por uma disposição de força, englobando o ânimo e a competência intelectual de um maior grau de envolvimento num compromisso de resultados a fim de se vislumbrar um horizonte temporal maior, ou seja, um grau de inteligência sistêmica, assim como aquela que passa, portanto, a existir após o início da Revolução Cognitiva, quando a organização humana a partir da caça e depois da domesticação dos animais, se torna um exemplo de um desenvolvimento do espaço ambiental com o qual o ser humano passa a se compreender, sendo parte significante dos sentidos que, então, atribuem as suas ações.
Em “A Arvore do Êxtase”, de Dolores Ashcroft-Nowicki, do qual já fiz um primeiro artigo na postagem anterior, retomo parâmetros que podem reforçar os aspectos primitivos dessa que é uma religião não instituída e que está representada desde as vivências das tradições xamânicas pré-históricas milenares e muito presente nas diversas culturas dos povos até à modernidade.
Fala-se no livro de “Antigos Caminhos”, os quais remontam a tempos pré-históricos, observando-se que, na postagem anterior, contávamos sobre o pequeno artefato chamado de “Vênus de Willendorf” datado desse período. Eu, particularmente, imagino uma cena de um tempo atrás e há milhares de anos, uma cena em que se encontravam primatas humanos sobrevivendo como catadores e migrando conforme a época do ano e a disposição de alimentos.
Talvez lá, com a percepção dessa primeira mulher a respeito da planta da qual consumiam frutos, observando os lugares pelos quais já conheciam, passou-se a revolver a terra e a plantar como é hábito de aldeias ameríndias desde tempo imemoriais.
É a mulher que torna à terra, inicialmente, a semente da qual se terá a planta madura na estação seguinte para o consumo daqueles pastores nômades que tinham a domesticação dos animais como principal meio de vida.
Ainda hoje esse estilo de vida é praticado nas estepes russas e na Mongólia, Ásia, além de muitos lugares pontuados no mundo.
E o mais interessante, podendo ter todas essas manifestações uma origem milenar comum anterior ao próprio conhecimento humano de si, consciente na Terra.