Artes e Fatos - Série "Origens dos Conhecimentos"
Ankh e o sinal de dignidade real
Símbolo constante em toda Antiguidade Egípcia, ankh ou “a chave da vida”, representa a história do homem egípcio como a de um viajante com destino além-vida. Em estudo nesse artigo, antecedido pela postagem “Arché” em que já faço menção à obra “A Serpente Cósmica”, está o livro de John Anthony West que nos leva a compreender a Antiguidade Egípcia dentro de um sentido tecnológico aplicado aos hábitos culturais humanos, abrindo novas fronteiras a um entendimento humano sobre si e de seu caminho.
Sobre a Série “Origens dos Conhecimentos”
Depois de algum tempo sem publicar postagens, um ímpeto de querer colocar os assuntos em dia, como acontece entre velhos amigos, me invade para atualizar um novo conteúdo como resultado de uma pesquisa feita por meio de artesfatos.com, e não sendo para menos. O livro de John Anthony West, que me tem servido a estudo das tecnologias relacionadas à Antiguidade Egípcia e à compreensão do modo com que essas tecnologias estavam organizadas como conhecimentos determinados por um domínio de entendimento humano quanto a um mundo multidimensional, se intitula “A Serpente Cósmica – A Sabedoria Iniciática do Antigo Egito Revelada”, e, embora possa ser pretensioso no subtítulo, a obra em si o justifica, sendo muito interessante para como se lidar com o modo de pensar a sociedade por meio de argumentos bem plausíveis pela expressão de suas culturas.
A questão, por enquanto, não é tanto tratar do que a obra revela, mas de como cheguei a obtê-la, quase como se predestinado a recebê-la como parte de um estudo maior em que tudo se encaixa a um cenário bem amplo de compreensão de mundo.
A começar por mim que, na necessidade de sintetizar toda uma experiência de pesquisa envolvida com a edição e publicação de artesfatos.com, procurei concretizar um livro físico com o qual pudesse recorrentemente contar para interpretar os demais conhecimentos que iam, desse forma, se somando ao livro depois de sua publicação.
Assim nasceu “Estados de civilidade: uma história sobre tecnologias” com o qual penso ter alcançado um bom êxito ao registrar, de maneira sucinta, três aspectos fundamentais para o entendimento humano. Talvez, por isso, eu tenha destacado à capa da primeira edição a ideia de: “Descubra conceitos de tecnologias ancestrais, entenda as bases das civilizações da Antiguidade e empreenda uma jornada histórica através do uso das tecnologias no transcorrer de milênios!”, o que pode parecer pretensioso, mas que faz jús ao poder de instigar, no leitor, uma percepção de um entendimento ampliado de si e da sociedade contemporânea.
Por razão óbvia, como autor tratando de sua própria “arte”, é um tanto suspeita minha observação a respeito, mas sinceramente, recomendo a leitura do livro de minha autoria, por ser resultado de um processo de pesquisa que pode ser admitido, com orgulho, bem vindo ao mundo.
É um livro em que procurei, através de artigos, organizar o que eu já sabia a respeito do período da Antiguidade, mais o que se acrescentou ao meu conhecimento depois da edição de artesfatos.com, lançando eu mão a textos admiráveis que podem nos proporcionar leituras que, sob muitos aspectos, são fundadoras da ideia de civilização em um todo distópico.
De tal forma que vale seu estudo em um paralelo as demais obras de autores mais conhecidos.
Boa leitura!
Egídio Mariano
23 de fevereiro de 2021
As civilizações questionadas
O estudo do uso humano de técnicas que transformam culturas e a vida em sociedades foi uma das razões que me levaram a criar artesfatos.com, e, na sequência de pesquisa, a publicar “Estados de civilidade: uma história sobre tecnologias”, pois ambos trabalhos foram fundamentais para ampliar meu horizonte teórico a partir de um novo panorama histórico.
Desde adolescente, não me parecia concebível a ideia de um desenvolvimento linear humano em se lidar com diferentes espaços sob uma mesma forma de ver o mundo, sendo que “civilidade” me parecia mais parâmetro de diferença tecnológica entre um aspecto rudimentar de lidar com a vida em relação a outro modo de lidar com as mesmas circunstâncias existenciais, mas essas sob o “lustre” de uma sofisticação de técnicas intelectuais humanas.
No entanto, minha formação no segundo grau escolar não foi a de se aprofundar em livros paradidáticos produzidos em série, em que as “apostilas” de “História” se tinha ilustrada uma Antiguidade agrária com uma tecnologia rudimentar que, no ápice de sua evolução, deu a construir as Grandes Pirâmides sob a força de uma imensa massa de escravos, conquistados à expansão do Estado Egípcio, um fenômeno descrito também em outras culturas, como as Maias e Astecas, Ameríndias!
Textos admiráveis se formam ao leitor no modo com que o leitor os interpreta. São admiráveis, por exemplo, de meu ponto de vista, obras como as de Fiódor Dostoievski, que tive acesso cedo em minha vida, ou outros textos que são capazes de levar o leitor a uma intensa imersão na história narrada a se chegar ao ponto de poder “interagir”, o leitor, com os personagens e com a época retratada como se testemunha real do narrado.
Pois bem, em meados do ano de 2015, talvez antes, não tenho por preciso, uma pessoa me indicou a leitura de um romance de título “O Egípcio” de Mika Waltari, lido por mim tão avidamente quanto o foram outras obras clássicas como “Os Miseráveis” de Victor Hugo, “As Vinhas da Ira” de Steinbeck, ou mesmo “O Físico” de Noah Gordon, que, em comum, possuem a capacidade de levar o leitor ao universo da narrativa como se fosse testemunha ocular dos eventos.
No entanto, “O Egípcio” foi uma leitura que me despertou para um entendimento até banal, o de que a humanidade, apesar das diferenças culturais e tecnológicas, se resumia a uma mesma gama de comportamentos não tão distintos entre esses, mesmo ao passar de alguns milhares de anos, sendo que é encontrado como um desafio na atualidade, também o foi, de maneira diversa, há milhares de anos atrás.
A observação acima me instigou a estudar melhor os povos do período da Antiguidade, até como contraponto tecnológico com o contemporâneo, o que me possibilitou, também, uma maior presença minha na biblioteca, estando eu entre estantes preenchidas com exemplares a se dizer alguns históricos como edições de “O segredo dos médicos antigos”, de Jürgen Thorwald, título que adquiri em uma segundo edição, ou como “Origem dos Direitos dos Povos”, de Jayme Altavila.
Assim, artesfatos.com me auxiliou, sendo técnica de organização de um conhecimento que se soma aos meus estudos, e desenhando um caminho editorial para toda a pesquisa sintetizada em “Estados de civilidade” como uma coletânea de artigos.
A cabeça e a cauda da serpente
Uma vez que não me parecia muito lógico uma uniformidade de entendimento sobre aspectos históricos humanos, os “campos” tecnológicos com que poderíamos mencionar o tempo cronológico de entendimento poderiam ser intercambiáveis e, sobretudo, também terem existido concomitantemente ou desaparecido sem que testemunhássemos qualquer vestígio como uma natureza de ser parte da “humanidade”.
Esse ponto, aliás, é o que se destaca em “Estados de civilidade” quando tratamos de conhecer melhor a obra de Yuval Noah Harari, expoente historiador contemporâneo, autor de “Sapiens: uma breve história da humanidade” em que podemos trabalhar o processo de “hominização” a se tornar uma humana qualidade nas ações conscientes da capacidade de reflexão abstrata, a ponto de romper com o sentido de tempo e de espaço ligados quase umbilicalmente ao ambiente natural, a se constituir um sinal de uma evolução à percepção humana de sentidos, para além dos biológicos, em que pesam tanto a capacidade abstrata de fazer relações quanto à capacidade de fazer uso da memória com a qual identifica questões culturais a legitimarem o renovar a título de serem devotados. De tal forma que “ampliando-se o reconhecimento humano por meio de artefatos simbólicos e imaginários, (…), por si só, os humanos [assim] se juntam e cooperam baseados em uma ideia, em uma ficção“. (apud. 2020-NASCIMENTO; p. 29). É a “Revolução Cognitiva” no entendimento de Harari, o lampejo capaz de tornar coeso um indistinto bando de Homo sapiens, há pelo menos 40 mil anos atrás!
Posto que recentemente encontrei um artigo de um mestre em Matemática que aponta para esse período pré-histórico, como um dos primeiros sinais de registro gráfico com significado provável de cálculo, ou de registro numérico abstrato!
Em “Evidências de Pensamento Geométrico em Artefatos da Caverna Blombos (2007)“, o professor em Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Manoel Campos Almeida, nos demonstra, como evidências de um pensamento geométrico, um registra gráfico e abstrato, o mais antigo que se sabe atualmente, constituído de incisões em um fragmento de um osso, como traços paralelos semelhantes aos registrados em ocres vermelhos já desenhados à força de uma intenção visível por materializar um determinado aspecto de desenho.
Esse ponto é muito interessante quando trazemos aqui uma análise de “A Serpente Cósmica” de John Anthoy West, em que se destaca o aspecto da origem da matemática para o entendimento dos números e suas relações simbólicas com os sentidos cosmogônicos egípcio.
Entrarei em detalhes nas próximas postagens, mas me parece incrível que uma obra possa se relacionar com tantas outras como a de West! Os desdobramentos de suas observações, tomando ele como base a obra de Schwaller de Lubics, intitulada “Ciência Sagrada: O Rei da Teocracia Faraônica”, podemos desvendar consideravelmente um hiato entre a ideia de uma Antiguidade feita por homens rudimentares ou, muito ao contrário disso, por um povo que, não impondo fronteiras entre religião, entre alguma forma de ciência e o Estado, teria acessado tecnologias avançadas e não compreendidas por milhares de anos, o que torna tudo ainda mais instigante!
Nas próximas postagens vamos abordar as origens da matemática e de um pensamento abstrato comparativo. Daremos sequência ao estudo do desenvolvimento dos números como um fenômeno simbólico. E a chave de algum entendimento sobre “maestria”, signo que se encontra representado por uma serpente à testa dos faraós, como símbolo da autonomia da vontade, o que significa o autodomínio, e a vontade de rendição, de entrega, sendo tanto a cabeça como a cauda da mesma serpente de entendimento.
Ankh, Ansata, ou cruz egípcia, tratava-se de um sinal de dignidade considerado “chave da vida” por, talvez, possibilitar meios ao homem egípcio de caminhar (sandálias) a um destino digno como a um ente inteiro pela criação de Rá (Sol).
Para ir além:
https://www.researchgate.net/profile/Manoel-Almeida-3
A Matemática é a ciência que estuda os números e as formas
Em https://www.researchgate.net/publication/330366857_A_Genese_do_Numero_-_Os_Neandertais_sabiam_contar_The_Genesis_Of_The_Number-The_Neanderthals_knew_how_to_count_2019
https://www.researchgate.net/publication/341254733_PRE-HISTORIA_DA_GEOMETRIA_-_Origens_Evolucao_e_Neurociencia_da_Geometria_PREHISTORY_OF_GEOMETRY_-_Origins_Evolution_and_Neuroscience_of_Geometry
https://www.researchgate.net/publication/332530377_A_Epopeia_do_Numero_-_Os_neandertais_sabiam_contar_The_Epic_of_the_Number_-_The_Neanderthals_knew_how_to_count
https://blog.waufen.com.br/significados-cruz-egipcia-ansata-ankh/#:~:text=Significado%20da%20Cruz%20Eg%C3%ADpcia%20%E2%80%93%20Cruz,ele%20tamb%C3%A9m%20teve%20outras%20interpreta%C3%A7%C3%B5es.&text=Por%20isso%2C%20o%20ankh%20%C3%A0s,%C3%A9%20um%20s%C3%ADmbolo%20de%20fertilidade.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ankh