Origens dos Conhecimentos
A esfera
Luz na escuridão: consciência do fogo é fogo, de como a consciência desperta pela individualidade humana se encontra no artífice da palavra, o escriba.
A cada vez que me aprofundo no universo da egiptologia, mais percebo que as primeiras intuições que tive a respeito foram as mais acertadas sobre o tema de tecnologia, e, principalmente, sobre os artífices das palavras, que foram, no Antigo Egito, os escribas: fonte de recursos quanto ao que se quer saber sobre, como consulta oracular, vivência de algo superior à natureza da physis, algo extracorpóreo que se observa uma capacidade de interpretar signos e sinais de outras dimensões que não as materiais elementares.
O escriba como sacerdote (o que recebe dom sagrado) me pareceu a identidade básica à manutenção de qualquer conhecimento sob registro material e inscrito, o que é muito interessante. Minha intuição sobre a civilização egípcia me levava a acreditar numa nação principiológica pelos termos de suas inscrições nos templos de maneira geral, e nos quais se narram, sobretudo, diálogos e evocações divinas.
Maat foi a deusa que me chamou atenção como provedora dessa mentalidade reguladora para o equilíbrio da existência egípcia (ver A materialidade das formas ou tag #Maat ). E em “Estados de civilidade: uma história sobre tecnologias”, é esse um dos conceitos basilares para o que podemos chamar tecnologia, uma constante [K] como um meio instrumental para as transformações das formas que são objetos presentes no sensível e perceptivo humano, então passando a estudar pela origem da Matemática como uma ciência, ou como uma linguagem da capacidade humana de calcular abstrações como registrada pela representação da deusa suméria Nisaba, protetora dos matemáticos que, por sinal, eram sacerdotes e, assim, estudiosos que tratavam dos conhecimentos letrados (inscritos) e instruídos por conceitos elaborados por uma mente concebida, originalmente, como dual (ver dualismo no tópico “Linguagem e raciocínio” de CORPO CÓSMICO ).
A ancestralidade dos artífices das palavras vieram das cavernas e de uma última era glacial, pois já, nesse sentido podemos observá-los em seus ritos de registros abstratos quanto aos eventos e aos elementos que lhes são próprios no presente daquele tempo cronológico existencial. Não foi, portanto, surpresa pensar que os devidos marcos às origens das civilizações como na chamada era Axial, entre VI e IV a.C. estivesse mais presente dez mil anos antes numa região de povos nômades que, hoje, é Göbekli Tepe.
Mas se poderia dizer que a comunicação humana em sua origem biológica de “lampejo” consciente foi a razão essencial de um entendimento humano que se deu desperto a partir da chamada Revolução Cognitiva, há 40 mil anos, sendo um tópico que abordo na primeira parte de “Estados de civilidade: uma história das tecnologias”.
Os egípcios da Antiguidade e da pré-história obedeciam uma linha matriarcal para as sucessões de poder e de domínio sobre os reinados. O Sol estava representado por uma esfera entre os chifres da coroa de Maat, de tal modo que somente por ela um rei viria a ser o mediador entre o céu cosmogônico e a terra Kemet sobre a qual caminhavam os homens em sua dignidade.
Sobretudo, a narrativa compreende a comunicação entre dimensões em que nos interpretamos como no caso de se alterar a percepção de uma realidade através da interpretação do signo como passagem a um significado. O significado tem algum sentido projetivo e pedagógico por se fazer perdurar como um conhecimento acessado durante um intervalo de tempo transcorrido.
Qual não foi minha surpresa por encontrar e ler Um outro mundo antigo, coletânea de artigos com vários autores, entre os quais, destaco “Rotinas e criações literárias: Ecos de Deir El Medina”, de Margaret Marchiore Bakos, no qual ela traz na página 20:
Quando a vila de Deir el Medina foi criada, os escribas eram os mais importantes funcionários reais, responsáveis pelas trocas culturais internacionais desde o período de sua criação,1550, até 1070 a.C., início da decadência da cultura egípcia, fase denominada pela historiografia, como oriente antigo. Deir el Medina, devido à própria proposta de criação da vila, passou a abrigar uma elite de artesãos; dentre eles, os conhecedores da escrita eram os mais importantes, pois a construção das tumbas da nobreza e dos faraós implicava a narração de seus feitos.
Para os antigos egípcios, o ato de escrever, cujas origens eram por eles desconhecidas, significava bem mais do que o mero registro de um nome, coisa ou pessoa: representava a sua própria criação. Eles atribuíam o desenvolvimento dessa habilidade aos ensinamentos de um deus, Thot, o que tornava os seus práticos – os escribas – seres especiais, possuidores de conhecimentos de caráter divino. Assim, o escriba, ao dominara escrita, adquiria um poder extraordinário naquela sociedade, pelo valor que nela se conferia à perpetuação, através do registro, de pessoas e fatos significativos.
A partir daí recomendo fortemente que leia o artigo dessa autora, pois se torna cada vez mais interessante o papel do escriba como o narrado pelas histórias da época, ou seja, testemunhos de vivências que se foram há quase cinco mil anos, com algumas outras implicações, como o estudo das formas originárias, como o círculo e o sentido da esfera como um mundo.
Para ir além:
https://www.academia.edu/14008611/Um_outro_mundo_antigo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Deir_Almedina