Parte 3 de Cosmovisão egípcia
A Esfinge
Do tempo de que se diz que é como rio, que corre sempre novo embora jamais saia de seu leito onde o próprio tempo transcorre.
A história do Antigo Egito pode ser melhor compreendida em uma linearidade de eventos organizados didaticamente por meio do trabalho de Arnoldo Walter Doberstein, que é um professor de História que disponibiliza um conhecimento sobre as principais linhas teóricas que abarcam os estudos de egiptólogos.
Acesse http://www.pucrs.br/edipucrs/oegitoantigo.pdf, clicando AQUI
Pela publicação acima é possível entender as principais linhas de pesquisa e abordagens de análises históricas que tratam do período que antecede e contempla a civilização egípcia em diante. Sobretudo, nos traça de maneira quase visual uma linha temporal de eventos que nos localiza durante todo percurso da pré-história gráfica, à historiografia das formas que foram usadas como testemunhos de seu próprio tempo e de seus costumes e crenças, como cosmovisões impressas. E mais do que isso, qual a chave do aprendizado que foi possível ao ser humano se entender como uma etapa da evolução de eventos, percebendo-a somente em um campo abstrato de entendimento a partir do qual foi capaz de organizar toda sua realidade?
Portanto, por que, afinal, estudar, ainda que de maneira mais remota tanto como leitor deslocado no tempo e no espaço, o Antigo Egito de cinco mil anos atrás? A resposta é categórica de minha parte: porque é um ato de resgatar o que se pode contar sobre a história da antiguidade egípcia, trazendo, nesse sentido, quase sempre um riquíssimo resultado de escavar esse campo fértil à pesquisa sobre cosmovisões, pois aí penso que se encontra um aspecto mágico da realidade egípcia que se vivia no cotidiano de muitas crenças possíveis a um mesmo teocrático Estado.
Sim, uma centena de crenças e de cultos representavam uma atividade primordial a toda sociedade egípcia e à organização de seu Estado faraônico, disciplinado que esse estava pela encarnação divina de Rá, transmitida sua civilização por meio de seus sumos-sacerdotes, e abaixo deles numa hierarquia disciplinar de um terceiro nível, os escribas e generais, para só então vir a servir a grande massa de pessoas súditas e/ou escravas da vontade do faraó, sujeitos que estavam ao serviço divino, entre agricultores e artesãos que, exigidos pelo ofício, eram obrigados a se dedicar à agricultura e ao abastecimento de todo reinado.
O faraó seria, portanto, o ápice da hierarquia de comando da sociedade egípcia a ponto de ser confundido com o próprio evento cíclico da natureza relacionado às cheias e aos vazantes do Rio Nilo, quando, sem ele, o caos retomaria a realidade da sociedade egípcia devido a desordem das hierarquias divinas sobre as quais a sociedade vivia.
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Da obra citada “O Egito Antigo”
- Sobre o Autor
Berço de uma das civilizações mais impressionantes da antiguidade, o Rio Nilo se torna lar de um panteão de deuses pelos quais ações se somam, se anulam ou se conflitam pelas vontades divinas despejadas sobre os meros mortais que, humanos, providenciariam algum desenvolvimento dos conhecimentos em que estavam implicados interesses comuns, entre os quais, a inviolabilidade dos templos e dos locais sagrados à manutenção dos segredos dos ritos que compreendiam uma atividade fundamental do Estado.
Estudar, portanto, ainda que de maneira remota tanto no tempo quanto no espaço o que se pode saber em relação à história da antiguidade egípcia, é um riquíssimo ato de escavar um campo fértil de pesquisa sobre cosmovisões, assim como estudar culturas mesopotâmicas que nasceram de uma pré-história localizada em uma região chamada de “Crescente Fértil”, região que irá dar origem as civilizações fundamentais às sociedades modernas.
Nesse sentido, há uma linha de raciocínio ufológica que nos traz a tese sobre Enoch como um mensageiro de informações de vida extraterrestre, algo revelado aos povos de origens semitas que habitavam o que ficou conhecido como Crescente Fértil. Seria a partir dele, a compor a sétima geração depois da de Davi pela tradição hebraica, Idris, pela tradição islâmica, ambos ligados a uma forma de conhecimento relacionado à comunicação e à linguagem humana sob a forma de registros gráficos que permaneceriam depois do dilúvio e à passagem de Noé a um novo mundo. É preciso, sim, entender melhor essa narrativa que se sagra textual e se torna sagrada quanto às representações divinas grifadas por alguém que simplesmente as registrou. E nesse sentido, precisa ser alguém que se compreende como artífice tecnológico de seu próprio tempo. É nesse aspecto que o artífice, como o escriba, parece ter capacidade divina a alcançar um espaço sagrado representado por Thoth, deus dos escribas.
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E não apenas a sociedade egípcia como também outras civilizações da antiguidade foram relacionadas a eventos cíclicos e sazonais das regiões banhadas por algum rio. Na Mesopotâmia, por exemplo, dinastias de reis babilônicos ou de culto de deuses sumérios, de maneira geral, deram os moldes a um patriarcado que se valia de um testamento escrito.
Alvin Toffler em “A Terceira Onda” trata das mudanças tecnológicas como uma característica das transformações sociais em ondas pelo espaço do transcorrer do tempo, e entre seus elementos que, por sua vez, se comunicam num processo mais amplo e civilizador. Nesse ponto oportuno, temos a ideia de um crescente nível de complexidade que leva a uma percepção de civilização ampliada a um território não civilizado, ou mais propriamente sendo hostil, quando nem sempre a hostilidade estava presente entre os “não civilizados”. Essa perspectiva com uma visão “abrangente” de civilização vem a compreender um movimento de globalização em termos de desenvolvimento tecnológico que demonstra ter uma natureza totalitária a fim de subjugar as “adversidades” de características muitas vezes distintas. Essa “onda” civilizatória que se torna uma visão esquemática das cadeias de causas que levam aos fatores mediados como o aperfeiçoamento de armas foi o que permitiu que alguns dos povos conquistassem outros povos pela força e pela superioridade técnica dos recursos aplicados ao combate. Por exemplo, como vimos por J. Diamond, foram diversas doenças epidêmicas que se deram nos seres humanos e que se desenvolveram em regiões onde havia muitas espécies de vegetais e animais que podiam ser cultivados e domesticados, em parte porque a agricultura e os animais domésticos ajudavam a alimentar sociedades densamente povoadas, onde as epidemias podiam proliferar, e em parte porque as doenças surgiram a partir de germes dos próprios animais domesticados.
Durante a Antiguidade para os egípcios pode ser que houvessem dimensões nas quais eles poderiam acessar, em meio a um caos, seus deuses que, enfim, organizavam a disciplina diária de seus templos e a adoração cotidiana de seus servos como todos os que serviam ao próprio Sol, deus Rá. Sobre esses homens egípcios foi surgir um exercício de criatividade com alguma força imagética a ser possível alcançar visões de mundo disruptivas ao cotidiano de seu próprio templo. O entendimento sobre movimento de energia, nesse caos primordial, deu à pena de Thoth uma organização pela grafia de escribas. E para uma concepção desses conhecimentos antigos, ouviu-se a tradição oral do que chamam de fé, talvez por ser uma resposta à necessidade profunda, psíquica e afetiva, do ser humano.
Essa é uma cosmovisão possível à civilização egípcia por ser o de uma constante criatividade cognitiva capaz de “criar parâmetros inexistentes na natureza”, ou, ainda, de dar vazão a poderes específicos pela criação de hierarquias representacionais com algum sentido e com algum significado de uma especialização técnica desenvolvida por categorias de conhecimentos necessários às populações, dando origem às civilizações.
Essa cosmovisão que imita, em outras dimensões, os relacionamentos humanos, possui uma natureza subjetiva de ser interpretações que serve de parâmetro a um comportamento humano estável através das instituições de práticas que se formaram a partir dele.
Bibliografia citada:
TOFFLER, Alvin. A Terceira Onda. Tradução de João Távora. 15a. edição. RJ: Record, 1980.
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